31 de agosto de 2003

B.B.
Baptista-Bastos publicou ontem, no DN, um magnífico testemunho. Colocou nas palavras justas o que é o sentimento generalizado de uma geração que deu tudo pela utopia. A geração que imaginou para Portugal um Maio de 68 que, começando antes, foi sendo sucessivamente adiado. E sobre o que resta desse sonho, neste Portugal pós-moderno.
"Quando há dias, no programa Livro Aberto de F.J.Viegas (NTV-Porto), repeti o que dissera, anteriormente, numa entrevista à revista Ler: "o meu mundo acabou", acrescentei que não havia amargura alguma nesta verificação de facto, mas um dado constitutivo da relação do tempo com a sociedade(...) O Muro, afinal era o pretexto da Esquerda e da Direita para acentuar as suas específicas circunstâncias (...) A partir de 1976 percebemos, os que perceberam, que o poder estava, de novo, nas mãos da classe média, cuja natureza medíocre atropelava as virtudes republicanas e tripudiava as esperanças colectivas. As reversões começaram a partir daí. (...)
Temos vivido de sobras? Em muitos casos, sim. Até do que sobrou dos sonhos. Todavia, a saudade desses tempos apenas significa que há uma história que transportamos e um orgulho que se não desmorona. De que saudades falarão, dentro de duas ou três décadas, os homens e as mulheres que têm agora 30 e 40 anos?. (...) Uma geração que limitou os seus desígnios a uma espécie de exclusão do outro, e que distinguiu, de um juízo valorativo, a definição puramente descritiva da categoria intelectual, é uma geração que a si mesma se despreza e se não toma a sério"...."

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